domingo, 13 de março de 2011

O futuro começou a 12 de Março?

Não sei. Mas algo terá mudado, se não no imediato no país, dentro de cada um de nós com certeza. O sentir que o meus sentimentos de isolamento, as minhas angustias e desesperos, as minhas revoltas são as mesmas de tantos e tantos milhares. Disse alguém que um homem não é uma ilha, digo eu que Portugal não é um oásis, mas é verdade que um deserto se atravessa melhor se em caravana.



Hoje saíram à rua pessoas como eu. Hoje soube-me bem lembrar todo o cinismo e li nos últimos dias, de quem talvez mais que desdenhar, receava a realidade que fizemos deste dia e imaginar toda essa pseudo-elite, pseudo-pensante, pseudo-intelectual sentada nos seus cómodos sofás em frente à televisão tentando pensar o que escrever agora para continuar a justificar os seus inúteis, desconstrutivos e improdutivos artigos de opinião; o que dizer nesses mesmos canais de TV que lhes pagam para nada fazer de útil à sociedade. Que gosto imaginar essa outra geração à rasca!



Pediu-se um sobressalto cívico. Não sei bem quem terá ficado com o sobressalto. Sei, sim, quem deu uma lição de civismo. Que seja um despertar de uma nova consciência cívica é o que espero, pois a ambição será curta se a um protesto não se seguir uma nova atitude construtiva. Um futuro não se pede, não se exige, constrói-se, luta-se por ele.



Depois de hoje, muitos de nós, eu, não vou mais indignar-me com quem não trabalhando de facto nos/me acusa de não querer trabalhar. Sei que somos milhares, milhões que lutamos todos os dias, não pelo tal emprego para o resto da vida, não por um qualquer vínculo eterno, mas tão só pela necessidade - não direito, como diz a nossa constituição - apenas a básica necessidade de ganhar dinheiro para viver. Não para pagar luxos, para pagar a prestação da casa, a conta do super-mercado. Outros que vivem em realidades diferentes onde há prestações de Mercedes para pagar que continuem e confundir tudo.



Cabe a cada um de nós fazer de hoje um dia de mudança. Interna. Pessoal antes de mais. Este protesto/movimento começou nas redes sociais. Pois que sirvam essas mesmas para aí deixarmos o negativismo de lado e saibamos dar, uns aos outros, o que cada um tem de bom, pois uma sociedade nova, diferente, mais humana apenas se poderá ir mudando e construindo pela positiva.



Disse-o: senti-me hoje de alma cheia, como há muito não me sentia. É meu firme propósito deixar a política aos políticos e fazer de ora em diante apenas e só aquilo que eu sei, amo e vivo para fazer: escrever. Não posso mudar o mundo, posso (podemos) continuar a exigir que Portugal mude. Que sejamos governados por uma classe política digna, séria e honrada e que o Estado seja enfim de Direito e Pessoa de Bem, de acordo com a Constituição, mas recuso-me a cair em generalizações. Há gente com valor, para quem o serviço da causa pública está acima dos interesses pessoais ou partidários.



A mim devo-me o dever de continuar a lutar por cumprir o meu sonho e talvez que nas palavras que vou escrevendo consiga fazer sonhar quem me leia. Porque acreditarei sempre que "o sonho comanda a vida e sempre que um homem sonha o mundo pula e avança".



João Moreira de Sá



Portugal, 12 de Março de 2011

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