sexta-feira, 8 de abril de 2011

No país dos Sacanas:

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Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?

Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,

e todos estão contentes de se saberem sacanas.

Não há mesmo melhor do que uma sacanice

para fazer funcionar fraternamente

a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,

para além das rivalidades, invejas e mesquinharias

em que tanto se dividem e afinal se irmanam.



Dizer-se que é de heróis e santos o país,

a ver se se convencem e puxam para cima as

[calças?

Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,

ingénuos e sacaneados é que foram disso?



Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.

Mas claro que logo todos pensam que isto é o

[cúmulo da sacanice,

porque no país dos sacanas, ninguém pode entender

que a nobreza, a dignidade, a independência, a

justiça, a bondade, etc., etc., sejam

outra coisa que não patifaria de sacanas refinados

a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacano e meio?

Não, que toda a gente já é pelo menos dois.

Como ser-se então nesse país? Não ser-se?

Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.

Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma
. Jorge de Sena, 1973

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