Em Portugal não há religião de nenhuma espécie.
Até a sua falsa sombra,
que é a hipocrisia,
desapareceu.
Ficou o materialismo estúpido,
alvar, ignorante, devasso e desfaçado,
a fazer gala da sua hedionda
nudez cínica no meio das ruínas
profanadas de tudo o que elevava o espírito.
Uma nação grande ainda poderá ir vivendo e
esperar por melhor tempo,
apesar desta paralisia que lhe pasma a vida da alma
na mais nobre parte de seu corpo.
Mas uma nação pequena, é impossível;
há-de morrer.
Mais dez anos de barões e de regímen da matéria,
e infalivelmente nos foge deste corpo
agonizante de PortugaL
o derradeiro suspiro do espírito.
Creio isto firmemente.
Mas ainda espero melhor todavia,
porque o povo,
o povo povo está são:
os corruptos somos nós os que
cuidamos saber e ignoramos tudo….
Almeida Garrett,
Viagens na Minha Terra.
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